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A auto-suficiência no refino |
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14/06/2006 |
SÃO PAULO - Prestes a alcançar a auto-suficiência na produção do petróleo, extraído da Bacia de Campos (90%), com 1,9 milhão de barris diários, a Petrobrás necessita cuidar da ampliação do refino para atender o mercado interno.
Ademais, a nossa principal estatal precisa reformar as suas refinarias, onde exerce o monopólio, a fim de processar o petróleo pesado, que extrai das plataformas marítimas.
As unidades de refino da Petrobrás estão dimensionadas para a transformação do petróleo do tipo leve (brent), de melhor qualidade, em derivados chamados nobres, como o gás de botijão (GLP), nafta petroquímica, diesel e querosene para os aviões. Em 2005, as refinarias brasileiras processaram 80% do petróleo de extração nacional e os 20% restantes foram importados.
Evidentemente, quanto mais for retirado do petróleo nacional, por ocasião do refino, menores serão as nossas importações dos derivados. Em decorrência, haverá reflexos positivos na nossa balança comercial e benefícios ao consumidor interno, com a possibilidade de maior estabilidade dos preços. Ademais, diante da oferta do álcool combustível (cerca de 17 bilhões de litros em 2006) e do gás natural (GNV), existe, nos dias atuais, sobra de gasolina na indústria brasileira do refino que está sendo exportada. Em face do dinamismo do mercado, a Petrobrás terá de adequar o seu refino às necessidades do consumo, que continua crescendo acima do produto interno bruto (PIB). Em decorrência, a Nação continuará importando alguns derivados e exportando outros. Isso não mudará com a decantada auto-suficiência na produção do petróleo.
Há muito tempo, infelizmente, o País deu as costas para as ferrovias e para o transporte marítimo e, praticamente, tudo é levado por caminhões e ônibus movidos a diesel, o que resulta num consumo, que já alcança em torno de 45 bilhões de litros anuais. Dessa forma, continuamos importando mais de 10% (cerca de 5 bilhões de litros anuais) das nossas necessidades do derivado. A Petrobrás proclama que irá reforçar os seus aportes de recursos financeiros em energias limpas ou renováveis, como o álcool, a eólica e o biodiesel, a fim de alcançar, igualmente, a soberania na área do consumo.
Recentemente, os técnicos da Petrobrás desenvolveram um novo diesel, chamado H-Bio, resultado da mistura de 10% de óleo vegetal (soja, algodão, girassol, mamona, dendê e palma) no processamento das refinarias.
O resultado é a obtenção de um produto com as mesmas características do diesel, extraído do petróleo, contudo muito menos poluidor. Um barril de diesel importado custa US$ 90, enquanto o equivalente de óleo de soja, produzido entre nós, sai a US$ 73. Nos últimos leilões, organizados pelo governo, a Petrobrás comprou o biodiesel por R$ 1,80 o litro.
Consoante às estatísticas, o cultivo de soja brasileira corresponde a 23 milhões de hectares e existem, ademais, 90 milhões de hectares de terras agricultáveis no Brasil, hoje ocupadas para a criação bovina.
Desta forma, há terras disponíveis para ampliar, significativamente, as culturas energéticas, como é o caso da cana-de-açúcar e dos grãos.
O que difere o H-Bio do biodiesel é que o primeiro decorre da mistura com o petróleo no processo de refino e o segundo é adicionado ao diesel, após passar por um processo químico.
Com isso, haverá sensível melhoria da qualidade do diesel e redução dos poluentes dos motores, alimentados com o combustível extraído do petróleo.
No que tange aos benefícios sociais, o biodiesel e o H-Bio vão aumentar as oportunidades de trabalho no campo e no processamento das oleaginosas.
Com investimentos consideráveis (US$ 8 bilhões até 2010), a Petrobrás deverá, em breve, ajustar as suas refinarias para processar o petróleo pesado, retirado dos seus próprios campos marítimos.
Persiste, não obstante, a excessiva tributação dos combustíveis. Hoje, quase a metade do que o consumidor final paga pelo preço da gasolina, do álcool e do diesel significa impostos estaduais ou federais.
Nos países desenvolvidos, os energéticos limpos e renováveis são isentos de tributação, o que deveria acontecer no Brasil. Igualmente, a poluição atmosférica, decorrente da queima dos combustíveis derivados do petróleo, traz danos à saúde humana e aos ecossistemas, o que poderá ser mitigado com o maior emprego do álcool e do biodiesel.Luiz Gonzaga Bertelli, diretor da Divisão de Energia da Fiesp, presidente executivo do Ciee e da Academia Paulista de História
Fonte:
O Estado de S. Paulo
14/6/2006 |
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