Professor diz que Brasil perde R$ 78 bi.
 
21/02/2006
Nesta entrevista [concedida à Agência ABCR], Simões explica como chegou ao preocupante número que está no título desta reportagem. Agência ABCR – Como o senhor desenvolveu a fórmula para calcular os prejuízos causados pelas más condições de infra-estrutura de transportes no Brasil? Eduardo Simões - Foi construído um modelo econômico multissetorial e inter-regional para a economia brasileira, incorporando os custos de transporte. Esse modelo é alimentado por um amplo banco de dados, levando em conta as compras e as vendas entre os setores econômicos e os consumidores, além de exportações, importações, emprego setorial e por região, fretes e distâncias rodoviárias, entre outras informações. Foi feita uma simulação do efeito isolado das péssimas condições de transporte, que provocam uma elevação do tempo de viagem das ligações entre as regiões, um aumento nos fretes das mercadorias em decorrência de desgaste de pneus e um maior gasto de combustível, entre outras conseqüências. Agência ABCR –De quanto é esse prejuízo? ES - O impacto econômico do descaso com as rodovias é muito elevado, porque o aumento dos custos com transporte representa menos renda, menor consumo e menos exportações. O montante de perdas econômicas soma cerca de 78 bilhões de reais, em termos de redução do PIB (Produto Interno Bruto). Isso é decorrente do fato de que um aumento dos custos de transporte eleva os preços das mercadorias e os custos de produção das empresas e, ainda, reduz a renda real dos consumidores. Os resultados simulados mostram que o impacto das condições péssimas de transporte representa uma perda de aproximadamente 3,8 milhões de empregos. Em termos relativos, as maiores perdas de emprego se dão nas regiões Centro-Oeste e Sul. As maiores quedas relativas na produção nacional ocorrem na agroindústria, no setor de serviços e na construção civil. Os resultados da simulação mostram que o comércio exterior como um todo recebe um impacto negativo e tanto as exportações quanto as importações sofrem uma redução. Em suma, é patente que os consumidores e os produtores são as grandes vítimas do aumento dos custos de transporte. Agência ABCR – O senhor afirma também que a queda do investimento em infra-estrutura provoca uma redução de 3,8 milhões de empregos. Por que isso acontece? ES - Isso é provocado pela seguinte cadeia de causa e efeito: um aumento de custos de transporte gera preços maiores de mercadorias, reduz a renda real dos consumidores e eleva os custos de produção das empresas, uma vez que elas usam mercadorias como insumos intermediários. Esses dois efeitos fazem com que se tenha menos consumo, menos produção e, com isso, menos emprego. Agência ABCR – Como esse quadro poderia ser revertido? Como o senhor avalia a matriz de transportes no Brasil? ES - É importante reconhecer que os transportes e a logística são importantes elementos da infra-estrutura que podem agir como facilitadores do crescimento, caso estejam em boas condições, ou como um obstáculo à retomada de crescimento, se estiverem em más condições. É necessário que o governo tenha uma estratégia de política de transporte de médio prazo e outra para o longo prazo. A médio prazo, como a matriz de transporte exibe uma participação elevada do transporte rodoviário, as melhorias das condições de transporte passam pela recuperação e pelo investimento das rodovias. A longo prazo a estratégia deve ser a busca da multimodalidade, procurando dar um peso maior para modos de transporte, tais como ferroviário e hidroviário. Agência ABCR – Como o senhor vê o investimento de empresas privadas em projetos de infra-estrutura? ES - Vejo com bons olhos, dado que o governo brasileiro tem um grave problema de capacidade de investimento. A participação de empresas privadas pode preencher essa dificuldade. Todavia, há a necessidade do governo voltar a ter recursos para o investimento em infra-estrutura, porque alguns projetos de transportes podem não apresentar atratividade imediata em termos de custo-benefício ao investidor privado.