Transporte perde 40% de participação...
 
17/03/2006
São Paulo, 15 de Março de 2006 - Pesquisa da Coppead/UFRJ feita ano passado apurou que o custo do transporte rodoviário no Brasil é quatro vezes menor que nos EUA. A diferença é atribuída ao grande universo de pequenas empresas e caminhoneiros que praticam preços competitivos e a diferenças na legislação trabalhista, que nos EUA limita o número de horas trabalhadas por motorista. "Embora o Brasil tenha custo menor de pessoal, os ganhos com fretes são muito inferiores aos dos EUA, o que impede uma modernização maior da frota rodante", dizia o coordenador da pesquisa, Maurício Pimenta Lima. De fato, o Registro Nacional de Transporte Rodoviário de Carga (RNTRC) feito pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) revela que a idade média da frota de quase 1,5 milhão de caminhões em poder de caminhoneiros, empresas e cooperativas é de 17,2 anos. Os caminhoneiros autônomos estão com a frota mais envelhecida, 20 anos. O RNTRC recebeu a inscrição de 115 mil empresas, quantidade que surpreendeu a ANTT que supunha a existência em torno de 40 mil. A profusão de empresas não foi acompanhada pelo aumento das cargas. Há pelo menos três motivos para isso: desaceleração da economia, setor de transporte mais produtivo e inflação em queda vertiginosa, que emagreceu os estoques e os chamados "passeios" da carga". Em regime de alta inflação é comum a mercadoria ter vários destinos, prática que gera maior necessidade de transporte. E nessa situação, é provável que o transporte seja perdulário, até porque seu preço no produto final da mercadoria costuma ser pequeno diante dos ganhos financeiros. Mas, em regime de contenção de consumo - e de inflação domada - o transporte passa a ser tratado com mais disciplina. É oportuno também lembrar que, se antes, o transporte rodoviário tinha folgada atuação, agora, com a concorrência da ferrovia e da cabotagem, ambas privatizadas, precisou ser mais produtivo e com fretes mais vigiados. A questão da produtividade merece capítulo especial. Quanto mais desenvolvido é o País menor será o custo da logística em relação ao seu do Produto Interno Bruto (PIB). Estudo divulgado no segundo semestre do ano passado pela Coppead/UFRJ revelou que no Brasil este custo tem valor equivalente a 12,1% do PIB. Se a pesquisa, por um lado contestou a tese de que este número ficava entre 15% e 17%, ela mostrou também que o custo logístico do País ainda está muito acima de países mais desenvolvidos como os EUA, onde este custo é de 8,5% do produto interno. Assim, como diz o professor de logística da Ohio State University, o brasileiro Walter Zinn, o Brasil tem ainda muito por fazer para implementar idéias existentes e desenvolver novas idéias para reduzir custo e melhorar o nível de serviço. "Basta pegar o PIB brasileiro e ver quanto dinheiro resultaria se reduzíssemos o custo logístico em mais 2% a 4%", assinala (numa conta rápida o resultado seria uma economia de R$ 2 bilhões a R$ 4 bilhões). Ninguém duvida de que houve um refinamento na logística brasileira, até porque o estoque é um dos itens mais importantes na composição dos custos logísticos. Se até meados de 1994, a farra da inflação protegia e até estimulava a formação de estoques e suas múltiplas transferências, daí em diante ele passou a ser combatido e reduzido. Se a racionalização logística, entre outras causas, concorre para reduzir o peso do transporte no PIB, não se deve esquecer que esse indicador também leva em conta o valor agregado com a movimentação de passageiros. Nesse aspecto, a redução do emprego formal que atingiu a economia brasileira a partir de meados de 1995 fez emergir um mar de competidores. Peruas de lotação são portas abertas para recepcionar os excluídos em momentos de crises. Maior oferta em geral implica em menor força de negociação. Em quase todo País as peruas de lotações passaram a competir com os sistemas regulares de ônibus.