Produtores já barraram 90 carretas
 
28/04/2006
O movimento Grito do Ipiranga, que atinge hoje o quinto dia de protesto, já acumula um saldo de 90 carretas barradas no eixo da BR 163, na saída de Sinop. Aumenta também dia a dia o número de equipamentos agrícolas e de grãos incinerados, além das manifestações diversificadas, como, por exemplo, distribuição de alimentos, panelaços, sepultamento simbólico dos agricultores, caras pintadas, pessoas usando nariz de palhaço e apitaços. Despontando como reflexo dos protestos, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Roberto Rodrigues, indicou o assessor de políticas agrícolas, Sílvio Farnese, para ir ao município de Lucas do Rio Verde (160 quilômetros de Sinop) participar de uma reunião de negociação com os produtores rurais. A assembléia que será acompanhada pelo senador Antero Paes de Barros (PSDB) está prevista para hoje a partir das 11h30. Apesar de liminar da Justiça Federal ordenar a liberação imediata do tráfego de carretas com grãos e insumos agrícolas na BR 163, os mobilizados resistem em acatar a ordem e já totalizam, somente em Sinop (503 quilômetros ao Norte de Cuiabá), mais de 90 carretas com cargas, em sua maioria de soja e arroz em casca, impedidas de seguir caminho. A informação foi repassada por um dos organizadores do Grito do Ipiranga na cidade, Rogério Rodrigues. Os caminhoneiros estão alojados em três postos de combustíveis na região. “Não iremos deixar a BR 163, vamos resistir à decisão judicial e continuar impedindo o tráfego de caminhões carregados com grãos e defensivos agrícolas, que em sua maioria estão sendo barrados no bloqueio de Sinop. Não há força que vença a resistência, e seremos resistentes”, assegura Rodrigues. Ao longo da rodovia, mais três barreiras foram montadas nas cidades de Sorriso, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum. A citação da liminar, expedida na terça-feira (25/04), foi realizada ontem aos produtores que se encontram no bloqueio localizado no km 821 da BR 163, no início da área industrial de Sinop. No momento em que o oficial de Justiça, que chegou acompanhado de uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), foi intimar os agricultores, os mesmos rapidamente, em demonstração de revolta, atearam fogo em uma colheitadeira. “Foi um momento de pura revolta dos produtores rurais, que em protesto atearam fogo em uma colheitadeira e numa carga de arroz em casca. Não foi a primeira e nem será a última, pois queremos um posicionamento do governo Federal”, explica Rodrigues, que avaliou o maquinário em R$ 50 mil. A carga de arroz em casca, estimada em 30 toneladas (t), foi avaliada em R$ 7,5 mil. Panelaço - As mulheres dos agricultores saíram às ruas e tomaram conta do protesto durante a manhã de ontem no centro de Sinop. Com as caras pintadas, usando nariz de palhaço, apitos e panelas nas mãos, elas realizaram um verdadeiro panelaço em frente à agência central do Banco do Brasil de Sinop. O movimento foi pacífico e o funcionamento da agência ocorreu sem transtornos, ao contrário da última quarta-feira, quando a Polícia Militar teve que entrar em ação e desfazer o cordão humano feito pelos mobilizados na tentativa de impedir a entrada de clientes e funcionários ao banco. Apesar de contabilizar um número reduzido de participantes ontem, comparando com o manifesto do dia anterior, as mulheres, em sua maioria mães, esposas e filhas de produtores rurais, fizeram muito barulho assoviando e batendo panelas. Em ato simbólico, os mobilizados sepultaram um agricultor, que teve como motivo da morte a inadimplência com o Banco do Brasil. Eles tentaram entrar com o caixão dentro do pátio da agência, mas foram impedidos pela Polícia Militar. “Vou morrer e não vou conseguir pagar a minha dívida com o banco”, afirma a agricultora Dines Baú, que possui uma dívida com o Banco do Brasil que ultrapassa os R$ 2 milhões. Mapa - Em reunião com o senador Antero Paes de Barros (PSDB), o ministro da Agricultura anunciou ainda que o Banco do Brasil divulgou três circulares que autorizam os bancos a suspender a cobrança das dívidas agrícolas que vencem este ano. Outra boa notícia é de que o Codefat acaba de baixar resolução destinando R$ 2,2 bilhões para o refinanciamento das dívidas dos produtores contraídas via CPRs. Fonte: Diário de Cuiabá 28/4/2006